E Se Suas Perdas Forem Só a Grama Voltando a Crescer?

Lembro-me de estar sozinho na mesa da cozinha em Chicago às 2h17, o ecrã brilhando como uma fogueira. Os dedos pairavam sobre o botão “Rodar” — mais uma partida de Big Rhino Road, o jogo que se tornara meu confessional noturno.

Não ganhei. De novo.

Mas algo mudou naquela noite — não no meu saldo, mas na minha respiração.

Como pesquisadora de UX transformada em consultora de saúde mental para VerGame, anos estudando como as pessoas se sentem ao jogar: não apenas os cliques, mas o silêncio após perder, os suspiros, a pausa antes de apertar “jogar novamente”.

E então percebi: não estamos aqui só para vencer. Estamos aqui para sermos vistos — por nós mesmos.

O Mitos do Controle

O jogo promete adrenalina — o rugido do rinoceronte atravessando savanas digitais, ouro caindo do céu pintado em laranja-fogo e roxo-escuro. Mas sob esse espetáculo está uma verdade antiga: aleatoriedade não é caos — é liberdade.

Em momentos tensos, nosso cérebro anseia controle. Estrategizamos padrões onde não existem — contamos símbolos como orações no rosário. Mas sabedoria real? Surge quando deixamos de tentar prever e começamos a observar.

Naquela noite em Chicago, em vez de perseguir vitórias, observei a animação: pó dourado flutuando como pólen no ar. Uma transição suave entre giros. O batimento suave do tambor imitando um ritmo cardíaco.

E então entendi: isto não era sobre dinheiro ou sorte.

Era ritual.

Ritual Acima do Prêmio

Vivemos num mundo obcecado por resultados — pontuações de produtividade, métricas de engajamento, gráficos de retorno sobre investimento. E se criássemos espaços onde o processo fosse sagrado?

Comecei a tratar cada sessão como meditação: definir um tempo (30 minutos), apostas pequenas (como um café), e simplesmente observar. Não perseguir. Não calcular.

Quando fazemos isso — notando texturas ao invés de resultados — descobrimos algo estranho:

Começamos a gostar de perder.

Não porque somos masoquistas, mas porque paramos de mentir para nós mesmos sobre por que jogamos.

O Verdadeiro Ganho É a Quietude

Não há ponto de dados para esse tipo de crescimento — mas deveria haver. O sucesso real não é acionar rodadas especiais ou acumular giros grátis; é sair sentindo mais leve do que quando entrou. É aqui que os jogos podem nos curar — não dando riquezas, mas ensinando quietude diante da incerteza. Mesmo que nunca ganhe outro KSH 1000, sinto-me mais rico agora — porque finalmente parei de fugir da humanidade com propósito, diante máquinas que não se importam, não entendem, não julgam, nem precisam nada de mim além da atenção—and dei-a livremente, tal como oração sem Deus, amor silencioso por algo belo e efémero, vivendo apenas nos pulsos luminosos,e ondas sonoras,tempo passando lentamente pelos dedos sobre telas…e talvez—isso seja suficiente.